Um espaço para compartilhar ideias e informações sobre Educação Infantil

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terça-feira, 23 de outubro de 2012

A criança e o brincar / O brincar e o pensamento


A aprendizagem que fica

Maria Ignez de Souza Vieira Diniz

Uma das fundadoras e coordenadora-geral do Grupo Mathema, Maria Ignez de Souza Vieira Diniz, é doutora em Matemática pela USP. Professora, pesquisadora, assessora, autora de livros didáticos, Maria Ignez nunca perdeu de vista a realidade das crianças e da sala de aula. Nesse texto, a coordenadora do Mathema  apresentar o tema dos materiais manipulativos. 


Este texto foi produzido especialmente para o Informativo Pais, uma iniciativa do CIRANDA.

A criança e o brincar
Brincar, brincar.... Na escola da Educação Infantil isso é mais que esperado! No começo da infância ter o espaço para correr, saltar, rodopiar, é encontrar a forma mais saudável e divertida para aprender a controlar esse corpo ainda em formação. Mas, e a mente? Ela também está em desenvolvimento.
Muitas vezes de forma inadequada, a escola separa o desenvolvimento do corpo do desenvolvimento da mente, criando momentos para a brincadeira em separado das aulas com atividades em papel para as crianças desenharem e depois escreverem.
Hoje sabemos que não existe essa separação corpo e mente. Eles desenvolvem-se juntos: um auxilia o outro e o desenvolvimento de um potencializa o do outro.
Sabemos também que as atividades em folhinhas com espaços para o aluno preencher ou desenhar são momentos finais de registro de aprendizagens, não sendo suficientes em si mesmas para gerar conhecimento no aluno. Por isso, o brincar se estende na forma de uso de recursos e materiais diversos para que os alunos pensem e aprendam a pensar.

Um exemplo
Vamos considerar o estudo dos animais. Uma forma para fazer esse estudo é apresentar às crianças figuras ou um vídeo com imagens de animais, falar sobre os animais de estimação dos alunos ou proporcionar uma visita ao zoológico.
Outra forma é levá-los para observar os bichos no pátio da escola, conversar sobre os insetos encontrados, separando-os de alguma forma: os que voam, os que rastejam, os que andam, os que saltam…
Depois, é possível fazer uma coleção de imagens com fotos, de diversas fontes, como revistas. E classificar e reclassificar a partir de diferentes critérios, para mostrar às crianças a diversidade de animais e iniciá-las em uma forma de pensar importante para aprender o que é a classificação – nesse caso, tendo os bichos como tema.
Imagine se, além disso tudo, os alunos puderem brincar de fazer os movimentos dos animais ou imitar seus sons, investigar o que comem e onde vivem, observar detalhes de um inseto ou de uma minhoca pegando ou olhando com uma lupa, ou ainda analisar uma obra de arte em que animais estão retratados, para depois desenhá-los em papel apenas para voltar a pensar sobre eles e não para fazer um “x” na figura correta. Os nomes dos bichos e sua escrita fazem parte da observação no pátio e da investigação a partir dos interesses das crianças e não vêm antes de tudo, como se faz tradicionalmente.
O brincar e o pensamento
Observe que não se trata de brincar livre como se faz fora das aulas e da escola, mas de um brincar que tem um objetivo relacionado ao pensamento. Nosso objetivo é desenvolver habilidades cognitivas como observar, investigar, resolver uma situação, usando o corpo como meio quando a criança tem em mãos objetos que podem ser manuseados ou animais verdadeiros em movimento.
No percurso dos alunos com o Ciranda eles vivenciam passeios pela escola e bairro, exploram o globo terrestre, fazem colagens, enchem e esvaziam canecas e potes, medem com pedaços de barbante, modelam com argila ou massinha, fazem com a professora receitas culinárias, montam quebra-cabeças, assistem a vídeos, veem imagens em livros ou cartazes, e muitas outras atividades em todas as disciplinas com os mais diversos recursos.
São recursos concretos pelo fato de serem próximos do aluno, sempre aliados a boas perguntas para que pela ação do corpo ao olhar, falar, sentir, sejam criadas oportunidades com muito sentido para a criança a fim de promover aprendizagem de fato. Aquela aprendizagem que fica e depois pode ser aperfeiçoada e transferida para outras situações.