A aprendizagem que fica
Maria Ignez de Souza Vieira Diniz
Uma das fundadoras e
coordenadora-geral do Grupo Mathema, Maria Ignez de Souza Vieira Diniz, é doutora em Matemática pela USP. Professora, pesquisadora,
assessora, autora de livros didáticos, Maria Ignez nunca perdeu de vista a realidade
das crianças e da sala de aula. Nesse texto, a coordenadora do
Mathema apresentar o tema dos materiais manipulativos.
Este texto foi produzido especialmente
para o Informativo Pais, uma iniciativa do CIRANDA.
A criança
e o brincar
Brincar, brincar.... Na escola da Educação Infantil isso é mais
que esperado! No começo da infância ter o espaço para correr, saltar, rodopiar,
é encontrar a forma mais saudável e divertida para aprender a controlar esse
corpo ainda em formação. Mas, e a mente? Ela também está em desenvolvimento.
Muitas vezes de forma inadequada, a escola separa o desenvolvimento
do corpo do desenvolvimento da mente, criando momentos para a brincadeira em
separado das aulas com atividades em papel para as crianças desenharem e depois
escreverem.
Hoje sabemos que não existe essa separação corpo e mente. Eles desenvolvem-se
juntos: um auxilia o outro e o desenvolvimento de um potencializa o do outro.
Sabemos também que as atividades em folhinhas com espaços para o
aluno preencher ou desenhar são momentos finais de registro de aprendizagens,
não sendo suficientes em si mesmas para gerar conhecimento no aluno. Por isso,
o brincar se estende na forma de uso de recursos e materiais diversos para que
os alunos pensem e aprendam a pensar.
Um exemplo
Vamos considerar o estudo dos animais. Uma forma para fazer esse
estudo é apresentar às crianças figuras ou um vídeo com imagens de animais,
falar sobre os animais de estimação dos alunos ou proporcionar uma visita ao
zoológico.
Outra forma é levá-los para observar os bichos no pátio da escola,
conversar sobre os insetos encontrados, separando-os de alguma forma: os que
voam, os que rastejam, os que andam, os que saltam…
Depois, é possível fazer uma coleção de imagens com fotos, de diversas
fontes, como revistas. E classificar e reclassificar a partir de diferentes
critérios, para mostrar às crianças a diversidade de animais e iniciá-las em
uma forma de pensar importante para aprender o que é a classificação – nesse
caso, tendo os bichos como tema.
Imagine se, além disso tudo, os alunos puderem brincar de fazer os
movimentos dos animais ou imitar seus sons, investigar o que comem e onde
vivem, observar detalhes de um inseto ou de uma minhoca pegando ou olhando com
uma lupa, ou ainda analisar uma obra de arte em que animais estão retratados,
para depois desenhá-los em papel apenas para voltar a pensar sobre eles e não
para fazer um “x” na figura correta. Os nomes dos bichos e sua escrita fazem parte
da observação no pátio e da investigação a partir dos interesses das crianças e
não vêm antes de tudo, como se faz tradicionalmente.
O brincar e o pensamento
Observe que não se trata de brincar livre como se faz fora das aulas
e da escola, mas de um brincar que tem um objetivo relacionado ao pensamento.
Nosso objetivo é desenvolver habilidades cognitivas como observar, investigar,
resolver uma situação, usando o corpo como meio quando a criança tem em mãos
objetos que podem ser manuseados ou animais verdadeiros em movimento.
No percurso dos alunos com o Ciranda eles vivenciam passeios pela
escola e bairro, exploram o globo terrestre, fazem colagens, enchem e esvaziam
canecas e potes, medem com pedaços de barbante, modelam com argila ou massinha,
fazem com a professora receitas culinárias, montam quebra-cabeças, assistem a
vídeos, veem imagens em livros ou cartazes, e muitas outras atividades em todas
as disciplinas com os mais diversos recursos.
São recursos concretos pelo fato de serem próximos do aluno, sempre
aliados a boas perguntas para que pela ação do corpo ao olhar, falar, sentir,
sejam criadas oportunidades com muito sentido para a criança a fim de promover
aprendizagem de fato. Aquela aprendizagem que fica e depois pode ser
aperfeiçoada e transferida para outras situações.