Mestre em Educação Física pela Universidade de São Paulo (USP), Kelly Zopei Flores é uma das autoras do Projeto Ciranda, na área de Movimento. Além de professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental, Kelly é pesquisadora do Laboratório de Pedagogia do Movimento Humano da USP.
Para falar sobre a importância do movimento para as crianças, Kelly dá essa breve entrevista.
- O que o movimento corporal tem a ver com o brincar e com o aprender?
Kelly Flores: De fato, as primeiras descobertas do bebê acontecem por meio das explorações de movimento, o que permite a ele começar a conhecer a si, aos outros, aos objetos e ao ambiente. É por isso que, neste período da vida, percebe-se uma grande atividade corporal: pegar, sugar, sentar, rolar, engatinhar, andar, correr, arremessar.
Isso ocorre porque a criança ainda não dispõe de outros recursos se não os movimentos corporais, que serão as bases para a elaboração dos outros sistemas: cognitivo, afetivo e o próprio sistema motor, à medida que adquire controle maior do corpo.
- Como o brincar aparece no Projeto Ciranda?
Kelly Flores: Uma das características fundamentais do Projeto Ciranda é o trabalho com jogos e brincadeiras.
O objetivo dos jogos é fazer com que provoquem nas crianças uma postura de investigação, de curiosidade, permitindo-lhes lançar e testar hipóteses, de modo a construir e reconstruir o próprio conhecimento. Nesse processo, abre-se um espaço de negociação entre diferentes pontos de vista para que, no final, cheguem a um acordo.
As brincadeiras da cultura popular têm, por sua vez, um lugar privilegiado no material. Como sabemos, ao brincar, a criança expressa sentimentos, emoções, identifica as partes do corpo, descobre movimentos que o corpo pode fazer, adquirindo, no processo, gradativamente o controle corporal.
Além disso, o trabalho com as brincadeiras busca permitir à criança conhecer e partilhar da cultura corporal de movimento, um dos objetivos centrais do trabalho proposto.
- Qual é a importância dos movimentos corporais para as crianças? Como as escolas trabalham, geralmente, sobre o tema?
Kelly Flores: De um modo geral, nas escolas, os movimentos corporais continuam sendo trabalhados de forma estereotipada e repetitiva. Além disso, são muito comuns práticas nas quais o professor compara os alunos em relação aos movimentos realizados, exaltando os “habilidosos”. Isso porque, nesse tipo de concepção, o objetivo principal da aula seria alcançar uma suposta “execução correta” do movimento apresentado.
O que se busca, nesse caso, é a padronização dos movimentos, desconsiderando que cada criança apresenta um ritmo próprio e que as diferenças individuais existem.