Um espaço para compartilhar ideias e informações sobre Educação Infantil

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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Formando leitores do mundo


Uma das missões mais importantes da escola, sem dúvida, é ensinar as crianças a ler e escrever. Porém, há quem pense ainda que o trabalho de leitura e escrita se reduza ao uso de cartilhas, em aulas de Língua Portuguesa, que começariam a partir do Ensino Fundamental.

Nada disso. Formar leitores e escritores é um desafio que envolve a escola inteira, em todas as áreas e durante todo o tempo de permanência da criança no ambiente escolar.

Assim, em Matemática, em Arte, Natureza, Sociedade, no trabalho com o Movimento ou mesmo na Linguagem Oral e Escrita, as crianças devem ser convidadas a ouvir e a contar histórias, recitar parlendas, ler ou registrar as regras de um jogo, ler notícias de jornais, enfim, explorar a linguagem.

Afinal, o mundo real é assim, não é? A palavra nunca aparece isolada, mas sempre em situações de uso.


Essa é a perspectiva adotada pelo Ciranda. Ler e escrever é mais do que conhecer (às vezes, mecanicamente) o código escrito (conhecendo as letras, unindo-as em sílabas, formando palavras).

Muito mais do que isso, trata-se de formar usuários da língua escrita, que veem sentido no aprendizado, aprendem a se expressar e a participar da cultura escrita.

Por isso, com o Projeto Ciranda a escola toda se torna um ambiente alfabetizador, ou seja, um espaço onde se promove um conjunto de situações de usos reais da leitura e escrita na quais as crianças têm a chance de participar.

Basta um exemplo simples: dentro do Projeto Ciranda, as crianças participam de todas as oportunidades de expressão – ajudam a escrever convites, registram os “combinados”, leem os comunicados com os pais, enfim, compartilham do universo onde a palavra escrita é a chave da compreensão.


Projeto Ciranda, uma proposta para formar leitores do mundo!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Inscrições abertas: II CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA.


Sexta, dia 15/06
19h30 Conferência de abertura:
"A escola e a construção do número pela criança"
Prof. Dra. Constance Kamii - Prof. Titular da Universidade de Birmingham
Tradução consecutiva: Prof. Ms. Marta Rabioglio

21h Palestra:
Formação de conceitos e dificuldades de aprendizagem
Prof.ª Ms Ivanilde Moreira

Sábado, dia 16/06
Oficinas.

Domingo, dia 17/06
8h30 às 10hs - Palestra:
"Avaliando competências no ensino de matemática"
Prof Dr Vasco Moretto

10h30 às 12h30 - Conferência de encerramento:
"Resolução de problemas: redimensionando seu lugar e seu papel na formação matemática do aluno"
Prof.ª Dra Kátia Stocco Smole

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Um exemplo de Resolução de Problemas.

A minhoca gosta de claro ou de escuro?


No projeto Ciranda, a resolução de problemas é uma perspectiva inserida em todos os eixos. Aqui, um exemplo ilustrativo de uma atividade na área de Natureza e Sociedade.


A situação-problema da qual parte uma atividade pode ser, por exemplo a vida das minhocas. Ao invés de simplesmente ‘ensinar’ as características desses animais, a professora lança perguntas provocativas, como: “onde elas vivem?”; “Têm patas?”; “Têm olhos?”; “Será que as minhocas gostam de claro ou do escuro?”.
A professora não apenas ouve a resposta das crianças, mas pede que justifiquem, e assim verifica o argumento ou raciocínio envolvidos. Pode sugerir, então, que as próprias crianças comprovem qual é a melhor resposta. O educador verifica o que elas propõem ao desafio: “o que podemos fazer para saber se as minhocas gostam ou não do escuro?”.
Essa é a situação-problema, em que a professora vai conduzir uma investigação científica, sempre a partir das propostas das crianças, ajudando-as a organizar as ideias, registrá-las em um papel e sistematizá-las, de forma adequada à faixa etária. Essa é uma etapa fundamental, que proporciona diversas experiências educativas e de expressão.
Na perspectiva de resolução de problemas, não há apenas um único caminho a ser adotado pelo professor. Um desdobramento possível é que o professor proponha a construção de um minhocário como ‘campo de testes’. Essa construção é mais do que uma brincadeira ou experiência. Na verdade, as crianças estão produzindo um modelo para a investigação científica.
As crianças participam ativamente. O minhocário pode ser feito em uma garrafa grande, aquário ou outro suporte. Sua construção permitirá um novo salto na investigação... Aqui surge uma primeira resposta a tantas questões. As minhocas gostam, sim, de escuro pois ficam frequentemente sob a terra – dado que pode ser constatado pelas crianças.
Depois de alguns dias, as crianças poderão observar, entre outras coisas interessantes, os túneis cavados pelas minhocas e a sua atividade de revolverem o solo; a terra jogada para fora dos túneis pelas minhocas; a subida à superfície, quando a terra estiver encharcada pela água e a reprodução das minhocas. Nesse caso, poderão ser observados casulos de ovos em volta do corpo de algumas das minhocas ou “saquinhos de ovos” colocados, em geral, presos a pequenos gravetos.
É um rico material que a professora explora. Todas as observações das crianças são importantes.
As crianças poderão relacionar, nesse caso, o comportamento observado à necessidade que as minhocas têm de respirar: ao encharcar o solo, a água ocupa o lugar do ar, de que as minhocas necessitam para respirar e que elas absorvem por intermédio da pele e de pequenos orifícios.
Por fim, a professora já tem a base para levar as crianças a ampliarem os conhecimentos, extrapolando para outros ambientes e situações. Por exemplo, a observação que fizeram ao que acontece nos jardins depois que chove muito ou ao que fazem os pescadores quando querem recolher minhocas no jardim.
Assim, o que poderia ter sido uma simples aula para alunos passivos, tornou-se uma jornada científica de descobertas que produziu, sobretudo, crianças motivadas a aprender e a investigar.


segunda-feira, 9 de abril de 2012

A PALAVRA E O MUNDO


Nesta entrevista, as pesquisadoras Patrícia Cândido e Isabele Veronese falam sobre como se desenvolve a proposta do Projeto Ciranda na área de linguagem.
  • Patrícia Cândido é coordenadora pedagógica do Projeto Ciranda e autora de Linguagem e Escrita.
  • Isabele Veronese é especialista em Língua Portuguesa pela PUC-SP e formadora de linguagem oral e escrita do Projeto Ciranda.
Como se dá o desenvolvimento da proposta de linguagem do Ciranda? De que princípios ela parte?
  • Patrícia e Isabele: Entendemos a linguagem como todas as formas de comunicação e expressão: a arte, os sinais, os símbolos, a fala e a escrita. Esse princípio nos levou a pensar uma proposta que contempla a linguagem nos três eixos que a compõem: a oralidade, a escrita e a leitura – não limitando-a ao estudo do código linguístico – letras, palavras, frases. O aprendizado da linguagem precisa ser entendido como algo ligado às necessidades e possibilidades da criança e, não apenas a uma organização estanque de conteúdos.

  • A criança desenvolve a linguagem à medida que sente a necessidade de utilizá-la para comunicar e expressar sentimentos e desejos. A criança precisa ser inserida em situações de comunicação, de escrita e de leitura nas quais ela reconheça a função comunicativa e expressiva da linguagem, bem como a diversidade de possibilidades de seu uso.
O que é um “ambiente alfabetizador”?
  • Patrícia e Isabele: A transformação do espaço escolar em ambiente alfabetizador contribui para que essas situações de comunicação sejam construídas na escola. Por exemplo, ao escrever a rotina ou a lista de nomes da turma, ao preencher o calendário ou definir os ajudantes do dia, a criança entende que a linguagem serve para organizar as atividades do dia a dia. Ao ler uma parlenda, seja no livro ou no anexo do professor, e depois ao brincar com essa parlenda, a criança nota que a linguagem serve também para divertir. 

  • Ao relatar aos colegas o que fez no fim de semana, a criança descobre que a linguagem serve para informar, para narrar fatos. Em outras palavras, o “ambiente alfabetizador” caracteriza-se pela exploração da linguagem no espaço escolar. Há livros ao alcance das crianças, textos fixados nas paredes, brincadeiras dentro e fora da sala de aula, leitura diária, rodas de conversa etc. Uma infinidade de situações que levam a criança a um universo no qual a imaginação e a experiência reinventam a linguagem diariamente.
No Projeto Ciranda, como fica a questão da ortografia e do erro ortográfico?
  • Patrícia e Isabele: Recordemos a máxima de Paulo Freire: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra. E esta permite a continuidade daquela.” Ou seja, partimos das vivências e experiências da criança – leitura de mundo – para que ela possa aprender outras possibilidades de comunicar e expressar ideias, sentimentos, desejos – leitura da palavra.

  • Para ampliar a capacidade de comunicação da criança, apresentamos a ela diversos códigos empregados na comunicação, dentre eles a linguagem verbal. Isso significa que a criança terá de refletir sobre a estrutura e o funcionamento da língua, inclusive a escrita correta das palavras. Não abandonamos, em hipótese alguma, o ensino da norma padrão da língua portuguesa, uma vez que esse ensino é uma das tarefas confiadas à escola.

  • No entanto, o como ensinar a norma padrão e, especificamente, a ortografia é que trará algumas mudanças em relação às concepções tradicionais. Se tomarmos a lista de regras, pautada na gramática tradicional, para ensinar ortografia, veremos que temos tantas regras quantas são também as exceções. Não ajudaremos a criança a escrever corretamente as palavras se as regras aprendidas não puderem ser aplicadas às situações de escrita das quais a criança participa. Assim, precisamos tomar outros rumos.

  • A criança deve arriscar uma hipótese, ou seja, escrever uma palavra, ter a oportunidade de compará-la à escrita convencional – consultar o dicionário, observar essa palavra escrita em outro texto – perceber o erro e ter oportunidade de corrigi-lo. Essas etapas valorizam a reflexão sobre a língua e a escrita ortográfica convencional. Propomos também outras estratégias, tais como comparar a escrita entre as crianças, produzir listas de palavras e corrigi-las coletivamente, oportunidades que não reforçam o erro, tampouco enfatizam a aprendizagem mecânica e segmentada. A escrita ortográfica merecerá espaço nas reflexões da criança depois que ela estiver alfabetizada.