Um espaço para compartilhar ideias e informações sobre Educação Infantil

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quarta-feira, 26 de junho de 2013

Vamos conversar sobre Tecnologia para crianças de 3 a 6 anos?

A relação entre a criança e o uso de tecnologia está na ordem do dia, bem como na pauta dos debates das famílias, das escolas, especialistas e pesquisadores que atuam em uma diversidade de campos de estudos relacionados a infância.
E, de fato, é preciso colocar luz sobre essas discussões e ampliá-las, pois as tecnologias vieram para ficar e, no momento atual, já se descortina uma grande mudança sociocultural, devido as potencialidades de uso das novas tecnologias.
Criança de 3 anos ensina o Bisavó a usar Tablet.
Como contribuição, trouxemos algumas conversas interessantes. Vamos ampliar informações sobre uma pesquisa que, faz pouco tempo, foi citada nas mídias, trazendo um resultado que fizeram pais e escolas tomarem consciência dessa nova realidade: crianças sabem mexer em mouse e manusear tablets, mas estão tendo dificuldade para aprender a amarrar os sapatos e andar de bicicleta.
E para refletir melhor sobre o tema, apresentamos a posição de alguns dos mais renomados especialistas em neurociência e no desenvolvimento da criança.

Tecnologia para crianças de 3 a 6 anos  

Se olharmos para trás, buscando resgatar a história das tecnologias de comunicação, retomamos o fim do século XIX, com o desenvolvimento do rádio.  Desde então, a introdução de cada nova onda de inovação nos meios de comunicação, tais como filmes e televisão, gera debates sobre os efeitos da nova tecnologia, especialmente no que diz respeito as consequências para as crianças e os jovens.  Cada nova tecnologia de mídia trouxe uma grande promessa para os benefícios sociais e educacionais, e também enorme preocupação com a exposição das crianças a conteúdos inadequados e prejudiciais.

De fato, estamos vivenciando o ciclo da história, tendo, dessa vez, como principais focos de atenção, os Smartphones, os tablets e os notebooks, dentre outros. 

Por um lado tem-se os defensores da informática evidenciando os benefícios sociais e educacionais de interatividade, desde tenra idade, enquanto outros alertam para os potenciais danos. Esses são os mesmos aspectos que ecoaram nos debates em torno da introdução de outros novos meios de comunicação ao longo do século passado.

Uma pesquisa realizada com 2200 mães de 11 países, pela empresa AVG Technologies, empresa de segurança a ataques a computadores via internet, apresentou dados que não são difíceis de serem constatados pelos pais e escolas, no Brasil, considerando o público que tem acesso as tecnologias:  23% das crianças entre dois e cinco anos conseguem fazer uma chamada telefônica usando um celular; 66% sabem como ligar um computador; 73% conseguem manipular um mouse e 25% das crianças navegam entre os sites com facilidade. No entanto, a mesma pesquisa constatou que apenas 11% dessas crianças conseguem amarrar os cadarços de seus sapatos e 20% conseguem nadar sem ajuda.

      




Referindo-se a essa pesquisa, Sue Palmer, especialista inglesa,  Ph.D em desenvolvimento infantil, e uma das maiores autoridades do Reino Unido sobre alfabetização, afirma que o pais são exemplos para as crianças e que seus hábitos junto as telas (TV, computador, Smatphone...) estimulam as crianças a serem igualmente dependentes. Além disso, muitos pais preferem lidar com soluções rápidas e recompensas fáceis, disponibilizando as telas em detrimento a incentivar brincadeiras reais, com pessoas reais. Segundo a Dra. Palmer, a criança precisa aprender a investir no esforço emocional que é necessário e importante para seus relacionamentos reais. 

 Enquanto a tecnologia digital amplia nossa potência cerebral em muitas outras maneiras benéficas, há crescente preocupação que a introdução de crianças para a aprendizagem digitais muito cedo pode tornar mais difícil o desenvolvimento de habilidades de alfabetização 'à moda antiga. (PALMER)

O Dr. Bruce D. Perry, especialista norte americano, reconhecido como uma autoridade internacional no desenvolvimento do cérebro e de crianças em crise, em recente entrevista à revista Early Childhood Today, respondeu à pergunta “são os cérebros das crianças (com idades entre três a seis anos) bem adaptados ao uso da tecnologia?” com uma importante explicação sobre algumas das tendências genéticas do cérebro humano. Segundo Perry, nossos cérebros desenvolveram capacidades especializadas para a vida em sociedade, para a comunicação e vários tipos de representações simbólicas. 

Nossas culturas evoluíram por meio de interações sociais, inicialmente sem uma linguagem escrita. O desenvolvimento da escrita mudou por completo a maneira como os seres humanos se desenvolveram, em grande parte, influenciando o desenvolvimento de novas capacidades cerebrais. Segundo ele, a tecnologia é responsável por esse mesmo movimento, nos tempos modernos. As representações simbólica externas, tais como as imagens visuais das telas (TV, computador, smartphone, etc.), e complexas videografias tridimensionais são processadas e armazenadas, atuando no cérebro humano, que não tinha uma genética específica para a atenção contínua a uma imagem em movimento bidimensional, por exemplo. Portanto, o cérebro literalmente sofre alterações em resposta as experiências.

Observa-se que as colocações do Dr. Perry é consonante com a primeira parte da fala da Dra. Palmer (veja a citação anterior). No entanto, ele é mais enfático, ao afirmar que  as tecnologias modernas são muito poderosas, porque elas dependem de uma das tendências genéticas mais poderosas que temos - a preferência para obter informações apresentadas visualmente. Portanto, o cérebro humano tem um forte viés para informações apresentadas por multimídias. Como a grande maioria dos programas de computador são visualmente atrativos, eles tem mais atratividade, mantendo a atenção das crianças.

Telas atrativas
A partir daqui, percebemos uma importante diferença entre as falas de Palmer e Perry. Enquanto a primeira olha para a tecnologia com restrições para aprendizagem na fase de alfabetização, para o segundo, as tecnologias devem ser utilizadas para melhorar currículo e experiências para as crianças. As crianças têm de ter um conjunto integrado e equilibrado de experiências para ajudá-las a crescer e tornar-se adultos capazes de  lidar com as interações sociais e emocionais, bem como desenvolver as suas capacidades intelectuais.


Segundo ele, pais e professores devem agir como facilitadores na aprendizagem das crianças. Por exemplo, sentar-se juntos e usar cartas de baralho é uma experiência cognitiva, pois as crianças podem aprender a adicionar, a prever, a lidar com o ganhar e com o perder, em um ambiente em que ela pode rir!  De forma semelhante isto pode acontecer com o uso das tecnologias emergentes. 
A tecnologia pode nos ajudar a ensinar as crianças, no final, nossas crianças aprendem a partir de nós. [...]    Eu acredito que os pais e os professores podem tirar proveito das qualidades interativas de um computador para melhorar as experiências disponíveis para as crianças. (PERRY)

Mas Perry alerta: as tecnologias que beneficiam as crianças são aquelas com amplo potencial de interatividade, que permitam a criança a desenvolver sua curiosidade, enfrentar resolução de problemas e habilidades de pensamento independentes. Os computadores envolvem interação, em contraposição à televisão. As crianças podem controlar o ritmo e a atividade, fazendo as coisas acontecerem em computadores.  Elas também podem repetir uma atividade quantas vezes precisar ou quiser.

Entretanto, é importante observar que o Dr. Perry sustenta que, para realmente se beneficiar das tecnologias disponíveis, as crianças precisam de experiências da vida real com pessoas reais.
Eu acho que o equilíbrio e o tempo são as chaves para o desenvolvimento saudável. Fornecer o direito a diferentes tipos de experiências no momento certo. [...] Estas tecnologias estão revolucionando o mundo que nossos filhos vão viver no futuro. Então, nossa tarefa é a de equilíbrio adequado de habilidades de desenvolvimento com tecnologias com os princípios fundamentais e as experiências necessárias para criar filhos saudáveis [...]. Eu acho que a chave para tornar a tecnologia saudável é ter certeza de que podemos usá-la para melhorar ou até mesmo expandir nossas interações sociais e nossa visão do mundo ao invés de usá-las para isolar e criar um mundo artificial. (PERRY)

Quando a escola utiliza os diferentes recursos disponíveis
Acreditamos que os ingredientes que colocamos nesse texto, podem ser de interesse para reflexão nas escolas, nas famílias e entre escola e família, em torno do tema “tecnologias para crianças de 3 a 6 anos”. E para finalizar, “apimentamos” um pouco mais a conversa, citando as palavras do Dr. Eitan Grispun, americano, pesquisador em modelos computacionais fundamentais para simulações e animações por computador, e de modelagem geométrica:



A não ser que haja uma catástrofe inimaginável, a tecnologia moderna preside e continuará a presidir a nossa civilização no futuro próximo e pelo menos no futuro médio [...]. Para não se alienar, para não se acomodar e para não perder sua humanidade, para usufruir desse novo horizonte que se descortina, é preciso espírito crítico à própria tecnologia.


Referências: